quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

CÂMARA DAS REFLEXÕES: Lembrando, mas só por lembrar

Lembrando ... Mas não só por lembrar

Irm.: Antônio do Carmo Ferreira


Volto, com freqüência, à leitura de um velho catecismo de nossa Ordem maçônica. Nele, muitas são as passagens que aguçam minha atenção. Umas de leitura leve, rápida, e de fácil entendimento a mensagem que passam. Outras de cunho histórico, exato, sem simbolismo. Pavimentam os lugares pelos quais a Ordem veio vindo até nós, destas paragens de cá, e dos tempos atuais. Todavia há passagens que exigem releitura, não só uma vez, mas muitas vezes, porque vão além do imediato. É preciso reflexão a respeito da mensagem que passam. Exigem o recurso da consciência.

Podem existir lições mais encantadoras que as contidas nesta passagem que, em seguida, transcrevo? “Nós nos reunimos, periodicamente, num Templo Maçônico, onde trabalhamos, para acostumar nosso espírito a curvar-se às grandes afeições e a não conceber senão idéias sólidas de bondade e de virtude”. É um alerta para o homem, chamando a atenção para a fragilidade do ser solitário. E o homem tem consciência disto. Ele percebe que sozinho é apenas uma molécula. E, como tal, prescinde de uma associação, formando um corpo maior, para, como integrante do mesmo, encontrar os meios de sua realização. Oh Arquimedes! Falta-lhe “o ponto de apoio

O homem dispõe da consciência de que tenha “nascido para as coisas maiores”. Lê o Velho Testamento e esbarra diante da finitude a que está destinado. Isto se limita sua vida ao horizonte material do corpo. Pois este retorna ao pó. Porém, nesta mesma leitura, encontra o não limite do viver. O retorno à Casa do Pai, para a qual a vida é uma peregrinação, segundo não só os ensinamentos do Eclesiastes, como as instruções agostinianas. E aí a vida se mostra imune à morte, energizada “do transcendental”, conforme inspira concepção do filósofo Maritain.

Recordo que Ortega e Gasset, excelente e admirável Mestre Filósofo da Universidade de Madri, onde pontificou, com inesquecível magistério, no segundo quartel do século XX, pregava que o homem carece de complementação, pois “eu sou eu e minha circunstância”. Reparando bem, a Maçonaria oferece, como “escola de conhecimento”, estas circunstâncias de realização ao homem.

A exegese do texto antes reportado nos leva a este entendimento. A convivência templária. A assiduidade às reuniões, onde, de forma recíproca, os irmãos se estimulam à “concepção de idéias de bondade e de virtude”. A tradição judaico-cristã também nos conduz a esta aprendizagem. Em Gênesis (2, 18), o leitor se depara com o registro de que “não é bom que o homem esteja só”. O que se confirma com um valoroso prêmio aos que forem obedientes a esta instrução, conforme reza Davi, ao escrever o Salmo 133: “serão gratificados com o bom e o suave, aqueles que estiverem unidos”.

É como registra meu velho catecismo a que recorro vezes sem conta e, meditando sobre seus ensinamentos, sempre tenho muito a ganhar: a maçonaria é um presente de Deus aos homens, sendo seus Templos o ponto de encontro, e suas reuniões o teatro, aonde os maçons vão e participam, na busca do aperfeiçoamento de seus costumes ou seja da arquitetura de uma sociedade menos injusta e menos imperfeita.

Deus é o Grande Arquiteto do Universo e mandou-nos ensinar, através de sua palavra revelada, que o maçom, por ser “sua semelhança”, será um missionário dessa Construção Social. Todos nós maçons sabemos disto, e eu, agora, mesmo parecendo chover no molhado, estou lembrando isto, na expectativa (insisto) de que não seja “só por lembrar”.

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